domingo, 23 de janeiro de 2011

Constantino e a Institucionalização da Igreja

Por Neil Cole* em 29 de Novembro de 2010

Recentemente, minha esposa e eu passamos alguns dias em York, na Inglaterra. Lá vimos uma estátua de Constantino erguida bem ao lado da principal catedral da área – a York Minster. Apesar de sua impressionante beleza, a catedral nos lembrou como as pessoas afastaram a igreja do propósito original.

A Igreja primitiva era orgânica e um movimento em suas primeiras centenas de anos. Mesmo levada à clandestinidade por ondas de perseguição romana, ela continuou como um movimento viral que não podia ser contido ou parado. Ainda que muitos tenham tentado destruí-la, cada tentativa a tornava ainda mais forte.

No entanto, tudo isso mudou em 313 d.C., quando o imperador Constantino declarou que o império não apenas toleraria o Cristianismo, mas restituiria à igreja todos os seus bens confiscados. Ele foi o primeiro imperador “cristão” e o Cristianismo, antes marginal, se tornou a religião do Estado, uma mudança radical. Desde então, contudo, a igreja não mudou. Nosso inimigo, o próprio Diabo, aprendeu que se não podia parar a igreja, deveria se juntar a ela e transformá-la de dentro para fora de maneira que ela fosse ineficaz e não mais ameaçadora. Com exceção de avivamentos eventuais em grupos remanescentes, pode-se dizer que ele conseguiu. E ele usou Constantino para começar este ataque maligno.

Ao longo dos séculos, depois de Constantino, a Igreja ocidental progrediu em muitos aspectos, mas nenhum representa uma mudança significativamente sistêmica. Por centenas de anos, houve poucas transformações desde o estabelecimento da Igreja Católica Romana e da Igreja Grega Ortodoxa. A Reforma dividiu a Igreja ocidental em Igreja Católica Romana e a volátil Igreja Protestante. Mas, apesar das diferenças, no âmbito institucional o sistema permaneceu praticamente intacto. Os anabatistas se separam da reforma (e foram perseguidos por ela), mas logo iriam se institucionalizar também.

Apesar das adaptações feitas para alcançar os mineradores de carvão na Inglaterra do século XVIII ou os peregrinos pós-modernos do século XXI, as mudanças são mínimas. Tradicional ou contemporânea, Pentecostal ou Presbiteriana, a igreja permanece institucional em sua abordagem. Dos batistas aos Irmãos de Plymouth, dos menonitas aos metodistas, as mudanças no sistema são praticamente insignificantes ao longo dos séculos. Com música ou sem? Órgão ou guitarra? Em catedrais com tetos altos e vitrais ou em encontros num galpão sem janelas, o atual sistema da igreja continua o mesmo.

Você tem um padre ou pastor, o culto de domingo com músicas e um sermão, a oferta semanal, o púlpito, os bancos, um edifício. Tem sido assim desde o século IV. E mesmo se você mover todo o show de um prédio para uma casa, se o sistema não mudou, o que você fez foi apenas encolher a Igreja, não transformá-la. Mudar o estilo de música não melhora o sistema. Apagar as luzes e aumentar o volume é um simples remendo no mesmo velho sistema. Corais e hinos ou bandas de louvor e máquina de fumaça, de joelhos ou de pé, o sistema muda muito pouco. Pregar mensagens tópicas ou expositivas não é mudar o sistema, trata-se apenas de mínimos ajustes. Escolas bíblicas dominicais ou células como ambientes secundários de aprendizado não representam nenhuma mudança sistêmica, só uma variação do mesmo velho sistema operacional.

Constantino foi declarado césar enquanto estava em York em 306 d.C. Hoje, próximo ao local onde ele foi nomeado imperador está uma estátua sua ao lado de uma grande catedral, o que acho tremendamente simbólico. Constantino transformou a Igreja numa instituição e ela permanece neste estado por 1700 anos. Hoje, há uma homenagem a ele perto de um monumento institucional que expressa exatamente o que a igreja é – a York Minster Cathedral. Hoje nós estamos testemunhando uma rápida transição de volta a uma expressão orgânica e viral de eclesiologia.

Devemos lembrar de Constantino para não cometer o mesmo erro. Precisamos acordar, mais uma vez, para a verdadeira natureza e expressão do corpo de Cristo, que não é um prédio, um programa, um evento ou uma organização, mas é sim uma família espiritual com um chamado e uma missão a ser cumprida em conjunto. Precisamos, mais uma vez, perceber que a forma da Igreja não é o problema, mas a maneira como nos relacionamos - com Deus, uns com os outros e com o mundo.

*

Neil Cole é editor do blog Cole Slaw e idealizador da Associação para Multplicação de Igrejas (Church Multiplication Associates - CMA), uma rede informal de comunidade em busca de uma expressão orgânica de Igreja, isto é, com um foco em pessoas e não em programas, em virtude da frustração com o sistema institucional. Neil é autor de vários livros, como Igreja Orgânica e Church 3.0.

3 comentários:

  1. É exatamente este o meu sentimento. Precisamos da vida de cristo do sangue dele fluindo no corpo e da visão de igreja como família e não como instituição.

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  2. Quero parabenizar as autoras desse blog, o conteúdo transcrito por vocês é excelente e de fácil entendimento o que proporciona uma rápida leitura! Pode até parecer ser pretencioso da minha parte meu pensamento a seguir, mas escrevo de coração! Chego a imaginar o que os apostolos de Cristo diriam se vissem este blog ou outros canais de comunicação que existem hoje em dia falando dos mais variados assuntos relacionados ao evangelho genuíno de Cristo, eles poderiam dizer com grande emoção: " -Valeu a pena, pregar, chorar, lutar, e morrer por amor a Cristo, hoje milhares e milhares de vidas, vivem pela graça a verdadeira liberdade em Cristo Jesus, Nosso Senhor e Salvador, Sim irmãos! Valeu a pena! " Mais uma vez deixo meus parabens, que Deus as abençoe ricamente!!! =)

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  3. Isabela, amei o comentário! Sem dúvida, temos que espalhar essa palavra que começou a ser pregada há muito tempo e chegou a nós pela bondade do Senhor. Espero que esse blog sirva para sua edificação sempre. Beijos!

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